Resumos

Apresentações Orais - Doutorado

 
27/08 - Quinta-feira
 

Conhecendo a Doença Celíaca e os novos tratamentos

Cláudia Corso

A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia crônica, autoimune, que acomete o intestino delgado, devido à ingestão de glúten na dieta em indivíduos geneticamente susceptíveis, resultando em atrofia dos vilos intestinais e má absorção de nutrientes e vitaminas. Os principais sintomas da DC incluem diarreia, dor e inchaço abdominal, constipação, vômitos, além de outros menos específicos como fadiga e humor alterado. No entanto, muitos portadores da DC são assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento, aumentando as chances de desenvolvimento de enfermidades secundárias como anemia, hipovitaminoses, osteoporose, doenças autoimunes, fibromialgia e neoplasias. A DC atualmente não tem cura e o único tratamento é uma dieta rigorosa isenta de glúten por toda a vida. Porém, recentemente, uma série de estudos clínicos vem indicando novos possíveis fármacos para o tratamento e/ou cura dessa enfermidade, como alternativa a dieta isenta de glúten. Nessa palestra serão abordados os principais fármacos estudados, mecanismo de ação e as perspectivas para os celíacos no tratamento dessa doença.

 

A beleza está no córtex pré-frontal de quem vê

Ana Noseda

A apreciação estética está presente no nosso dia-a-dia, seja olhando uma paisagem, um quadro e até mesmo uma pessoa. Fatores como a simetria facial e o dimorfismo sexual são possíveis fatores relevantes para determinar se um rosto é atraente. Mas quais estruturas estariam envolvidas quando observamos um rosto atraente? A percepção estética poderia estar envolvida com o circuito dopaminérgico de recompensa? E seria possível alterar a percepção de beleza? 

 

β2-microglobulina é um fator sistêmico pró-envelhecimento que prejudica as funções cognitivas e a neurogênese

Taysa Bervian Bassani

            O envelhecimento desencadeia prejuízos cognitivos e regenerativos no cérebro adulto, aumentando a susceptibilidade às doenças neurodegenerativas em indivíduos saudáveis. Experimentos prévios empregando a técnica de parabiose heterocrônica, na qual os sistemas circulatórios de um animal jovem e de um idoso são compartilhados, indicaram que fatores circulatórios pró-envelhecimento do sangue idoso geram fenótipos de envelhecimento no cérebro jovem. Neste trabalho, a β2-microglobulin (B2M), um componente do complexo de histocompatibilidade principal classe 1 (MHC I), foi identificada como um fator circulante que regula negativamente a cognição e as funções regenerativas no hipocampo adulto de maneira idade dependente. A B2M está elevada no sangue de humanos e camundongos idosos e está aumentada no hipocampo de camundongos idosos e de jovens que compartilham sangue de idosos (parabiontes heterocrônicos). B2M exógena injetada sistemicamente ou localmente no hipocampo, prejudica as funções cognitivas dependentes do hipocampo e a neurogênese em camundongos jovens. Os efeitos negativos da B2M e da parabiose heterocrônica são em parte atenuados em camundongos knockout para Tap-1, os quais apresentam reduzida expressão de MHC classe I na superfície celular. A ausência de B2M endógena anula o declínio cognitivo relacionado à idade e aumenta a neurogênese em camundongos idosos. Estes resultados indicam que o acúmulo sistêmico de B2M no sangue de idosos promove disfunção cognitiva relacionada à idade e prejudica a neurogênese, em parte via MHC I. Isto sugere que a B2M pode ser um alvo terapêutico promissor para suavizar os efeitos do envelhecimento sobre a cognição.

 

A relação entre a criatividade musical e o uso de drogas ilícitas: mito ou realidade?

Adriano Targa

A criatividade musical é algo intrigante e alvo de interesse tanto da sociedade de forma geral, como também de estudos científicos. Recentemente, com o advento das técnicas de neuroimagem, algumas regiões encefálicas e interações entre diferentes regiões têm sido associadas a esse fenômeno. Entretanto, ainda existem muitas controvérsias, uma vez que alguns estudos levam a resultados completamente divergentes. Aliado a isso, existem pensamentos que fazem parte do senso comum como, por exemplo, a associação entre criatividade musical e uso de drogas ilícitas, situação presente em composições de vários gêneros musicais. Composições consideradas como “clássicos” muitas vezes foram realizadas por compositores/cantores/bandas com um histórico associado ao uso de drogas ilícitas. Assim, é interessante uma análise crítica a respeito da possível influência de drogas ilícitas na criatividade musical a nível fisiológico e farmacológico, bem como a respeito de possíveis generalizações ou distorções da realidade a respeito desse assunto.

 

Jogar Tetris pode reduzir flashbacks de eventos traumáticos via mecanismos de reconsolidação

Lais Soares Rodrigues

A memória de um evento traumático se consolida dentro de horas. Essas memórias podem aparecer como flashes espontâneos, o que leva ao desconforto. A reconsolidação, ou seja, o processo durante o qual memórias tornam-se maleáveis, pode ser bloqueada usando uma tarefa cognitiva, e esta abordagem poderia reduzir essas invasões espontâneas de memórias de eventos traumáticos. A reconsolidação de uma memória visual de um trauma experimental poderia ser perturbada se ocorresse ao mesmo tempo uma tarefa visuo-espacial, que iria competir por recursos de memória de trabalho visual. Experimentos demonstraram que essas memórias traumáticas intrusivas foram praticamente abolidas por jogar Tetris na sequência da reativação da memória traumática, 24 horas após a exposição inicial ao trauma experimental. Um procedimento não invasivo, como uma tarefa cognitiva simples, administrado após memória emocional já ter sido consolidada (ou seja,> 24 horas após a exposição ao trauma experimental) pode prevenir a recorrência de memórias intrusivas desses eventos emocionais.

 

Participação do sistema endocanabinóide em modelos de psoríase

Priscila Lucia Pawloski

A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que possui um processo fisiopatológico bastante complexo que resulta em hiperproliferação dos queratinócitos, as principais células da epiderme, ocasionando a formação de placas descamativas. Atualmente, todos os tratamentos existentes para a psoríase normalmente promovem melhora dos sintomas, entretanto vêm associados a diversos efeitos adversos que acabam por prejudicar a adesão do paciente ao tratamento. Assim, torna-se evidente a importância e a necessidade de estudos que visem a elucidação do processo fisiopatológico da psoríase a fim de identificar novos alvos terapêuticos e desenvolver novos agentes eficazes e seguros. O sistema endocanabinóide é um sistema amplamente distribuído em todo organismo e atua sobre diversos processos fisiológicos, como da homeostasia da pele, e também processos fisiopatológicos. Estudos apontam evidências de que os endocanabinóides participam do processo de regulação da proliferação de queratinócitos na pele, justamente o processo que encontra-se alterado em uma placa psoriática. Assim, o sistema endocanabinóide parece ser um alvo terapêutico promissor para o desenvolvimento de novos agentes antipsoriáticos. O objetivo desse trabalho será, portanto, investigar o comportamento do sistema endocanabinóide na pele de camundongos num modelo de psoríase induzido por imiquimode (IMQ) e avaliar o efeito de antagonistas e agonistas canabinóides na proliferação e diferenciação de queratinócitos em modelos de psoríase in vitro.

 

28/08 - Sexta-feira

Participação de endotelinas em alterações sensoriais térmicas em um modelo de carcinoma orofacial

Caroline Machado Kopruszinski

O câncer que acomete a região orofacial apresenta alta incidência na população. Existem diversas evidências de que as endotelinas participam no desenvolvimento de alguns tipos de carcinoma, promovendo a angiogênese e a proliferação celular, além de contribuir para o desenvolvimento de alterações sensoriais, tais como hiperalgesia e alodinia. Apesar do seu papel bem caracterizado na transmissão nociceptiva trigeminal, o envolvimento das endotelinas em alterações sensoriais orofaciais relacionadas ao câncer ainda não foi investigado. Dessa maneira, o presente estudo tem como objetivo avaliar a participação das endotelinas e seus receptores na hiperalgesia térmica ao calor desenvolvida após inoculação de células tumorais Walker-256 na face de ratos. Todos os experimentos foram realizados em ratos Wistar machos (200 g) e protocolos foram previamente aprovados pela Comissão de Ética para Experimentação Animal da UFPR (autorização #645). O Câncer orofacial foi induzido por inoculação de uma suspensão de 2x10células/100 uL de tumor Walker-256 na região direita de inserção das vibrissas dos animais. Respostas comportamentais a aplicação de uma fonte de calor radiante na região de inserção das vibrissas foram avaliadas previamente a inoculação de células tumorais e nos dias 2, 4 e 6 após a inoculação, e diminuição da latência para resposta através de retirada da cabeça ou movimentos vigorosos das vibrissas foram considerados como indicativos de hiperalgesia térmica ao calor. Para avaliar a influência das endotelinas em alterações sensoriais induzidas por inoculação tumoral, respostas a estimulação térmica foram avaliadas no 6°dia após a inoculação das células, previamente e a cada hora, até 6 horas após o tratamento local dos animais com BQ-123 ou BQ-788 (antagonistas do receptor de endotelina ETA e ETB, respectivamente; a 30 nmol/50 µL) ou após o tratamento por via oral com Bosentan (antagonista misto de receptor de endotelina ETA/ETB, a 100 ou 300 mg/kg). Um grupo adicional de animal recebeu tratamento também por via oral com Bosentan (100 mg/kg, per os) diariamente durante sete dias, com início do tratmento no dia da inoculação, e respostas a estimulação térmica foram avaliadas previamente e nos dias 2, 4 e 6 após o tratamento. O tratamento local com BQ-123 ou BQ-788 não reduziu a hiperalgesia térmica ao calor avaliada no 6°dia após a inoculação das células tumorais. Da mesma maneira, a hiperalgesia ao calor induzida foi inalterada através do tratamento único ou repetido com Bosentan a 100 mg/kg. Por outro lado, administração única de Bosentan a 300 mg/kg aboliu a hiperalgesia térmica ao calor desenvolvida pelo tumor por 5 horas após o tratamento, no 6°dia após a inoculação das células. Nossos resultados sugerem que endotelinas, atuando através de receptores ETA e ETB, podem participar no desenvolvimento de hiperalgesia térmica ao calor associada ao câncer facial.

 

A abordagem proteômica na Toxicologia

Letícia da Silva Pereira Fernandes

A proteômica pode ser definida como o processo de separação e posterior identificação de proteínas com relevância para determinado processo biológico. Já o termo proteoma descreve o conjunto completo de proteínas em determinado tipo celular, porém deve-se atentar ao fato de que esse conjunto de proteínas está em constante mudança de acordo com o “momento” celular. A toxicologia, classicamente avalia efeitos de compostos através do uso de animais, seguido de técnicas tradicionais como a histopatologia e análises bioquímicas. Neste contexto, a proteômica vem como uma nova técnica para as análises toxicológicas, pois permite a identificação de novas proteínas ou de diferentes perfis proteicos envolvidos em alterações celulares em resposta a xenobióticos. Uma grande contribuição que pode ser alcançada com o emprego da proteômica na toxicologia é a melhora da avaliação de segurança, por exemplo, de novas drogas, melhorando a previsibilidade de testes préclínicos. Isso pode ser possível, pois a identificação de proteínas ou vias associadas á toxicidade de determinado composto pode representar um mecanismo comum de toxicidade. Dentro da “toxicoproteômica” existem duas áreas principais de aplicação. A primeira trata da investigação do mecanismo de ação dos compostos, avaliando o mecanismo de lesão em diferentes sistemas, o que pode elucidar, por exemplo, a presença de processos tóxicos específicos para cada espécie. A segunda grande área abrange a toxicologia preditiva ou de varredura, com esta finalidade, a proteômica busca estabelecer relações entre os efeitos tóxicos e proteínas marcadoras, ou seja, a utilização de determinadas proteínas como biomarcadores de toxicidade. Esta segunda área talvez seja a principal via de contribuição da proteômica para a toxicologia, pois a partir da determinação das proteínas marcadores (preditivas de toxicidade) estas proteínas poderiam ser aplicadas para uma varredura de toxicidade de vários compostos. Ainda, no contexto da predição do efeito tóxico, a alta sensibilidade da proteômica pode permitir a detecção de efeitos tóxicos em doses/concentrações mais baixas que aquelas detectadas através das metodologias mais tradicionais. Assim, conhecendo o potencial da proteômica na avaliação da toxicidade de diferentes compostos, um dos objetivos propostos em meu projeto é avaliar o perfil proteômico em tecidos envolvidos com o sistema reprodutivo do peixe Rhamdia quelen, expostos ou não a pequenas concentrações de cádmio. E alcançado este objetivo, propor proteínas preditivas da toxicidade deste metal.

 

Anti-inflamatórios não esteroidais no ambiente aquático: novos desreguladores endócrinos?

Francielle Tatiana Mathias

Medicamentos prescritos ou livres de prescrição são produzidos e utilizados em quantidades que excedem centenas de toneladas anualmente. A maioria dessas drogas e de seus metabólitos é excretada ou descartada em efluentes urbanos, apresentando potencial para causar impacto ambiental. Neste cenário, os medicamentos são considerados contaminantes emergentes, por serem moléculas biologicamente ativas, potencialmente perigosas para os organismos aquáticos e para saúde dos ecossistemas. Os fármacos entram nos sistemas aquáticos por diferentes vias e tem sido detectados em efluentes tratados, contaminando rios, lagos, estuários, águas subterrâneas e água potável. Normalmente, águas residuais são conduzidas para estações de tratamento de esgoto, locais onde as drogas deveriam ser degradadas rapidamente por processos de degradação microbiana. No entanto, na maioria das vezes, esse tipo de tratamento não é eficiente para fármacos, permitindo que os mesmos permaneçam disponíveis no ambiente aquático. Muitos compostos farmacêuticos não exibem uma toxicidade aguda, mas tem um significativo efeito cumulativo sobre o metabolismo dos organismos. Dentre estes compostos, são considerados de extrema importância, os desreguladores endócrinos, que atuam em hormônios naturais das espécies não-alvo, e em doses extremamente baixas, podem imitar, bloquear ou ainda interferir na atividade hormonal normal. Os peixes são considerados uns dos primeiros organismos com risco de contaminação por desreguladores endócrinos, são expostos a uma grande variedade de produtos e possuem diferenciação sexual muito instável. De acordo com a literatura, a comunidade científica tem se preocupado principalmente com algumas classes terapêuticas mais relevantes em termos de contaminação ambiental, dentre elas destaca-se a classe dos medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES). Esses fármacos atuam por inibição de uma ou ambas as isoformas de enzimas ciclo-oxigenase, COX-1 e COX-2, envolvidos na síntese de diferentes prostaglandinas a partir de ácido araquidônico. Ao inibir a via da enzima COX em peixes, os AINES podem alterar a síntese de eicosanóides, e esses mediadores são considerados importantes reguladores da reprodução em vertebrados e invertebrados, por estarem relacionados com a produção de hormônios. Assim, fármacos dessa classe terapêutica podem estar atuando como desreguladores endócrinos e afetando a reprodução de animais aquáticos. Os fármacos ibuprofeno e dipirona pertencem à classe dos AINES. O ibuprofeno tem sido detectado em águas superficiais de muitos países e existem estudos com animais aquáticos demonstrando que este fármaco altera níveis hormonais, bem como fatores relacionados à reprodução de peixes. A dipirona é uma das drogas mais frequentemente encontrada em efluentes hospitalares e embora seja amplamente utilizada no Brasil e em outros países da América do Sul, os estudos sobre o seu destino no ambiente e sobre os efeitos reprodutivos sobre organismos são escassos. Meu objetivo com o projeto de Doutorado é verificar se a exposição de peixes (Rhamdia quelen) a esses dois fármacos em baixas concentrações, é capaz de causar efeitos de desregulação endócrina nesses animais. Com isso pretende-se trazer uma discussão dessa problemática, visando minimizar o impacto ambiental destes contaminantes no ambiente aquático, seja impedindo a contaminação das águas ou elencando métodos eficientes de tratamento para águas já contaminadas.

 

Clorpirifós durante a gestação: risco aos descendentes?

Jonas Golart

Os casos de alterações comportamentais como o déficit de atenção, dificuldade de memorização e de relacionamento têm aumentado ao longo das últimas décadas. Pesquisas relacionadas ao estudo de xenobióticos buscam avaliar a toxicidade sobre o sistema nervoso na sua fase de desenvolvimento. Os estudos que priorizam os períodos de organogênese, ou seja, na formação de indivíduos imaturos (período fetal) são importantes para a compreensão do complexo modo como as regiões cerebrais são influenciadas enquanto da sua formação por outras estruturas também em desenvolvimento, como por exemplo a tireoide, que participa via seus hormônios na construção neuronal. A regulamentação sobre o uso de substâncias químicas não leva em consideração a neurotoxicidade devido a exposição no período de desenvolvimento do sistema nervoso para colocar certo produto no mercado. Internacionalmente, agências como a de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento trabalham no sentido de criar guias avaliativos de toxidade fundamentados sobre as possíveis alterações comportamentais e de neuropatologia. Dentre as substâncias que mais apresentaram irregularidades em amostras avaliadas pelo Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos no ano de 2010, os organofosforados são os mais incidentes, sendo o clorpirifós com o maior índice de amostras insatisfatórias. O clorpirifós é relacionado com frequência pelos estudos direcionados a organofosforados como importante agressor do sistema nervoso em indivíduos adultos (ratos e humanos), mas a relação dele com formação dos sistemas fisiológicos, especialmente o nervoso e o endócrino, ainda necessita de uma maior fundamentação principalmente sobre a relação entre a ação tireoidiana e o desenvolvimento cerebral. Com esta base é que se fundamenta este projeto, estudar a influência do organofosforado clorpirifós sobre o papel da glândula tireoide no desenvolvimento de áreas cerebrais específicas em fetos durante o período gestacional de ratos Wistar. Para tal proposta serão avaliados critérios específicos do desenvolvimento geral, motor e de comportamento em dois momentos (lactação e jovem-adulto) e valores bioquímicos de referência para avaliar o grau de comprometimento do sistema nervoso e da glândula tireoide após a exposição pré-natal.

 

Ramnogalacturonana como potencial terapêutico para o tratamento da colite ulcerativa

Daniele Ferreira

A colite ulcerativa é uma doença crônica que afeta o cólon com etiologia desconhecida. Apesar das opções de tratamento, nem todos os pacientes são responsivos a terapia e o seu uso está relacionado a efeitos adversos. Considerando isto, os polissacarídeos se tornaram recentemente foco de estudos exibindo atividades farmacológicas importantes como por exemplo imunomodulatória e antinociceptiva. Ainda, nosso grupo de pesquisa já mostrou que o polissacarídeo ramnogalacturonana (RGal) isolado da Acmella oleracea tem potente atividade antiulcerogênica e cicatrizante gástrica (Maria-Ferreira et al., Plos One, v. 9, p. e84762, 2014). Portanto, neste estudo nós investigamos os efeitos protetores do RGal em um modelo de colite ulcerativa induzida por dextrano sulfato de sódio (DSS) em camundongos, e os mecanismos de ação envolvidos em células de adenocarcinoma de cólon humano (Caco-2). A colite foi induzida com a administração de DSS por 5 dias seguidos de 2 dias de água. Os animais foram tratados diariamente (v.o.) com veículo (água, 1 ml/kg) ou RGal (10 mg/kg). As características da doença foram monitoradas diariamente e a alodinia visceral foi avaliada com filamentos de Von Frey. Após 7 dias, os cólons foram coletados e tiveram peso e comprimento mensurados. O tecido colônico foi usado para a enumeração total dos neurônios do plexo mioentérico e avaliação histológica. Células Caco-2 foram incubadas com IL-1β em um ensaio de permeabilidade celular e após utilizadas para análise dos níveis de IL-8 e expressão e distribuição das proteínas de junção epitelial claudina-1, ocludina e ZO-1 por imunoblot e imunofluorescência (CEUA/BIO-UFPR; nº 721). RGal reduziu o escore da doença do dia 5 (28%) até o dia 8 (46%), protegeu os animais da perda de peso (dia 8, 51%) e reduziu o dano macroscópico quando comparado com o grupo DSS. RGal também previniu a redução do comprimento do cólon (RGal: 9,1 ± 0,2 cm) quando comparado com o grupo DSS (DSS: 7,1 ± 0,2 cm), reduziu a resposta de retirada a estimulação mecânica do abdômen e protegeu as células ganglionares do cólon quando comparado com o grupo de DSS. Na análise histológica, RGal aumentou a espessura da mucosa e da submucosa em 22 e 54% e diminuiu a espessura da camada muscular e da parede total em 38 e 18% quando comparado com o grupo DSS, acompanhado pela manutenção dos enterócitos e células caliciformes da mucosa. No ensaio de permeabilidade celular, RGal (100 e 1000 μg/ml, poço interno) previniu a permeabilidade em 43 e 65%, respectivamente, e 77% (1000 μg/ml, poço externo), quando comparado com o grupo IL-1β. Observamos também redução da secreção de IL-8 (RGal: 807 ± 49,7 pg/ml) e diminuição da expressão de claudina-1 (40%) quando comparado com o grupo IL-1β. Coletivamente, demonstramos que RGal reduziu a severidade da colite induzida por DSS em camundongos através de vários mecanismos e pode representar uma molécula promissora para o desenvolvimento de drogas para o tratamento da colite ulcerativa.

 

Apresentações Pôsters - Mestrado

 

Avaliação da atividade anti-inflamatória in vitro de triterpenos isolados da Vochysia Bifalcata Warm

Caroline Dadalt Silva

A planta Vochysia bifalcata, conhecida popularmente como guaricica, é uma árvore nativa brasileira de grande valor socioeconômico e ambiental, encontrada nas regiões Sul e Sudeste do país. Recentemente nosso grupo de pesquisa demonstrou o forte potencial terapêutico dessa espécie através da atividade anti-inflamatória do extrato bruto de suas folhas, o que nos leva a investigar essa mesma atividade em seus compostos isolados, bem como a segurança dessa planta para o uso no tratamento de doenças inflamatórias da pele. Os compostos isolados fitoquimicamente são terpenos, conhecidamente o maior grupo de compostos naturais presente no reino vegetal, originários do metabolismo secundário de plantas. É também a maior classe de produtos naturais utilizados na atualidade, sendo milhares descritos e distribuídos amplamente na natureza em número muito mais elevado ao de qualquer outro grupo de produtos obtidos de fontes naturais. Os compostos isolados são ácido asiático, ácido arjunólico e trachelosperogenina, com atividades biológicas multifuncionais descritas na literatura, entre elas hepatoproteção, cardioproteção e efeitos antitumorais. Nosso objetivo é inicialmente avaliar in vitro a atividade destes compostos, isoladamente e em conjunto. A atividade anti-inflamatória será investigada com modelos de irritação e inflamação induzida por TNF-α em queratinócitos, medidas através da ativação de macrófagos e mensuração indireta da produção de óxido nítrico pelo método de Greiss, de citocinas inflamatórias e moléculas de adesão. A segurança será avaliada com análises de viabilidade celular, através dos métodos de vermelho neutro (mede a integridade de membranas celulares e lisossomais) e MTT (pela atividade da desidrogenase mitocondrial).

 

Estudo dos efeitos da lesão na substância negra parte compacta induzida por 6-OHDA sobre os aprendizados associativos apetitivo e aversivo

Daniele Ramos

O condicionamento clássico ou Pavloviano é uma forma de aprendizado, no qual os animais associam um estímulo a uma consequência que pode ser recompensadora ou punitiva, como também apetitiva ou aversiva. Vários estudos sugerem que os núcleos da base estão envolvidos nos processos cognitivos, como no aprendizado associativo. Todos os núcleos da base recebem projeções dopaminérgicas da substância negra compacta (SNc) e da área tegmentar ventral (VTA) e, dependendo das estruturas-alvo, essas diferentes vias desempenham diferentes papéis na ativação do comportamento. Estudos envolvendo lesões, bloqueio de receptor, auto-estimulação elétrica e drogas de abuso sugerem que os sistemas dopaminérgicos mesencefálicos estão envolvidos no processamento da informação da recompensa e do aprendizado do comportamento de aproximação. Estudos reforçam a teoria de que a DA é liberada de forma fásica em resposta a eventos recompensadores, enquanto que sua liberação é inibida na ausência de recompensa. Em contrapartida, outros trabalhos demonstram que os neurônios dopaminérgicos respondem de forma fásica a eventos não necessariamente recompensadores, tais como surpresa, novidade, estímulos salientes e também aversivos. Os resultados desses estudos levaram à hipótese de que as células dopaminérgicas do mesencéfalo não são homogêneas e, que as propriedades moleculares e fisiológicas desses neurônios estão associadas com as estruturas-alvo às quais projetam. O paradigma da preferência condicionada de lugar – Conditioned Place Preference (CPP) – e da aversão condicionada de lugar – Conditioned Place Aversion (CPA) é utilizado para explorar as propriedades apetitivas e aversivas de um tratamento. Com base nisso, no presente projeto, ratos são lesados bilateralmente na SNc com a neurotoxina 6-OHDA e, então submetidos ao CPP e ao CPA. Cada compartimento do aparato é pareado com um estímulo apetitivo (sacarose), e outro com um estímulo aversivo (quinino) e, depois é analisado o comportamento dos animais frente às associações e o efeito da lesão sobre o aprendizado. Os resultados parciais do estudo demonstraram que o grupo SHAM apresentou um menor tempo de permanência no compartimento pareado com quinino. No entanto, os animais do grupo 6-OHDA gastaram praticamente o mesmo tempo em ambos compartimentos. Com base nesses dados, é possível dizer que os animais SHAM aprenderam a tarefa aversiva e os animais com lesão não aprenderam essa tarefa. No teste de preferência condicionada de lugar não houve diferença siginificativa entre os grupos, sendo que ambos permaneceram tempo equivalente nos dois lados do aparato. Este achado pode ser atribuído ao fato do pequeno tamanho da amostra, que será aumentado nos próximos experimentos.

 

Efeitos antinociceptivo, anti-inflamatório e gastroprotetor dos polissacarídeos da CrotoncajucaraBenth. em roedores

Evana Figueiredo Junckes de Souza

CrotoncajucaraBenth., popularmente conhecida como sacaca, é um arbusto nativo da região amazônica, que é frequentemente usado para dores estomacais, febre, doenças hepáticas e malária. Estudos fitoquímicos já demonstraram a presença de compostos como terpenoides, esteroides, flavonoides e óleos essenciais. Entretanto, nenhum estudo documentou a presença e atividade biológica dos polissacarídeos na Crotoncajucara (CCP). Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi investigar atividades antinociceptiva, anti-inflamatória e antiúlcera da CCP em roedores.  Para avaliar a resposta nociceptiva, camundongos fêmeas (~20 g) foram tratadas intraperitonealmente com salina (1 ml/kg), CCP (0,01; 0,1; 0,3; 1; 3; 10 mg/kg) 30 minutos antes da injeção de solução de formalina (2,5%, 20 μL/pata). A hiperalgesia térmica foi avaliada na placa quente (52±1oC) na 1ª e na 3ª hora após a injeção de carragenina (20 μl, 300 μg/pata). Também foi medido o edema de pata com micrometro. Os camundongos foram tratados como descrito acima. Para avaliar o efeito gastroprotetor, as lesões foram induzidas por etanol (1 ml, v.o.) e diclofenaco sódico (80 mg/kg, v.o.) em ratas fêmeas (~200 g). Os animais foram tratados com água (1 ml/kg), prostaglandina E2 (20 μg/kg), omeprazol (40 mg/kg) ou CCP (1, 3, 10, 30 mg/kg). Após 1 ou 5 h após os animais foram eutanasiados e os estômagos foram coletados para medida dos níveis de muco e GSH bem como análise das lesões. Os resultados obtidos mostram que CCP nas doses de 0,3 e 1 mg/kg reduziram a segunda fase da resposta nociceptiva induzida por formalina em 45 ± 8 e 40 ± 7%, respectivamente. Além disso, CCP 1 e 10 mg/kg diminuiram a hiperalgesia termica induzida por carragenina ( na 1ah: 113 ± 21 e 106 ± 35%; na 3ah: 126 ± 30 e 149 ± 36%, respectivamente) e somente a dose de 10 mg/kg diminuiu o edema de pata em 53 ± 4%. Ademais, CCP (3, 10 e 30 mg/kg) demonstrou efeito gastroprotetor reduzindo a area da lesão em 56 ± 6, 80 ± 3 e 42 ± 5%, respectivamente (omeprazol 91 ± 15%). Entretanto, não foi observado efeito gastroprotetor nas lesões induzidas por diclofenaco sódico. CCP demonstrou efeitos antinociceptivo químico por formalina e anti-inflamatório induzido por carragenina. Além do mais, CCP mostrou efeito gastroprotetor por aumento de muco. Estes procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal com números 837 e 657.

 

Óleo de peixe como potencial alvo farmacológico no tratamento da ansiedade associada ao diabetes: um possível envolvimento da via nitrérgica

Isadora Pozzetti Siba

O diabetes é um transtorno metabólico heterogêneo e crônico que gera altos custos hospitalares, incapacidade de realização de atividades corriqueiras e aumento da mortalidade. Sabe-se que a hiperglicemia decorrente do diabetes induz diversos danos neuronais relacionados com diversas doenças neuropsiquiátricas como transtornos de ansiedade. Estudos relatam que a prevalência de transtornos de ansiedade é 2-3 vezes maior em pacientes com diabetes, e que o desenvolvimento desta é uma complicação do diabetes, aumentando sua morbidade e mortalidade – hipótese corroborada por estudos em que que animais diabéticos apresentam um comportamento do tipo ansiogênico mais pronunciado. Muitas evidências apontam que este comportamento estaria associado a uma alteração nas monoaminas, estas podendo ser relacionadas a uma desregulação na síntese e/ou degradação de óxido nítrico (NO), pois estudos mostram que a expressão do NO está aumentada no núcleo paraventricular hipotalâmico e na substância cinzenta periaquedutal dorsolateral em animais diabéticos. Estes fatos evidenciam a necessidade de maior entendimento na fisiopatologia da ansiedade relacionada ao diabetes. Importante também ressaltar que os fármacos atualmente disponíveis no mercado não são totalmente eficazes em aliviar sintomas de ansiedade, além da possível alteração da glicemia nos pacientes agravando ainda mais o quadro hiperglicêmico. Neste sentido, estudos focando em novos alvos terapêuticos para o tratamento da ansiedade associada ao diabetes são indispensáveis, sendo a suplementação com óleo de peixe (OP) um possível novo alvo.  O OP é uma das fontes primárias do ômega 3, o qual possui atividade antioxidante, diminuindo os níveis de NO no encéfalo de ratos, melhorando a neurotransmissão de 5-HT no hipocampo (HIP) e no córtex, induzindo efeitos ansiolíticos. Baseado no exposto acima e tendo em vista que ainda não há estudos investigando o OP como um potencial alvo farmacológico no tratamento da ansiedade associada ao diabetes, o presente projeto avaliará em animais com o diabetes induzido pela estreptozotocina se o tratamento com OP será capaz de prevenir o comportamento do tipo ansiogênico mais pronunciado desses animais, além de melhorar respostas que dependem da memória. Para tal, os animais serão avaliados em testes de ansiedade, como o labirinto em cruz elevado e o teste de transição claro/escuro, bem como serão submetidos ao teste de localização de objeto (memória espacial), fase que já está em andamento, sendo que os animais foram testados com as doses de 1g/kg e 3g/kg, faltando somente a análise dos resultados. Conforme o resultado obtido na análise comportamental, também será avaliado o possível mecanismo de ação ansiolítico do OP, se por mecanismo gabaérgico, benzodiazepínico ou serotoninérgico. Também investigaremos no cortex pré-frontal, amígdala e HIP, áreas encefálicas implicadas na ansiedade e memória, de animais diabéticos tratados ou não com OP a quantidade de nNOS (NO suntase neuronal) e de nitrito e nitrato (espécies reativas de nitrogênio).

 

Envolvimento do receptor TRPV1 no extravasamento plasmático na traqueia e brônquio de ratos tratados com inibidor da enzima conversora da angiotensina

Janiana  Oliveira

Pacientes que recebem inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA)como terapia para a hipertensão e insuficiência cardíaca relatam efeitos adversos, tais como tosse e angioedema. O mecanismo desses efeitos não está claro, embora a bradicinina (BK) possa estar relacionada com a sua manifestação. Estudos têm demonstrado que a BK pode ativar o receptor de potencial transitório vanilóide1 (TRPV1) indiretamente. O objetivo do trabalho é avaliar o envolvimento do receptor TRPV1 no extravasamento plasmático induzido ​​nas vias respiratórias após tratamento agudo com Captopril (CAP), um IECA. Para tal, serão utilizados ratos Wistar machos (200-250 g) anestesiados com cetamina (50 mg/kg) e xilasina (10 mg/kg) via intraperitoneal (i.p.) tiveram uma cânula inserida na traqueia e foram ventilados artificialmente. O pré-tratamento intratraqueal (i.t.) com Capsazepina (CPZ, 100nmol/100 µl, antagonista TRPV1) ou Hoe 140 (HOE, 10nmol/100 µl, antagonista do receptor de BK 2), bem como a associação de CPZ e HOE ou seus respectivos veículos (Vei) foi realizado 15 minutos antes da injeção intravenosa (i.v.) de azul de Evans (AE, 30 mg/kg). Após 1 minuto CAP i.v. (2.5 mg/kg) ou Capsaicina i.t. (CPS, 1nmol/100 µl) ou seus Vei, foram administrados e 10 minutos depois os animais foram perfundidos transcardiacamente com salina (0,9%NaCl), a traqueia (T) e o brônquio (B) foram removidos, pesados ​​e incubados em 1 ml de formamida durante 24 horas e a quantidade de AE extravasado foi medida espectrofotometricamente a 620 nm e expressa em µg/g de tecido. Os resultados obtidos mostraram que o extravasamento de EA foi aumentado após aadministração de CPS i.t.na T (103,6 ± 8,6 µg/g) e B (97,2 ± 5,6 µg/g) em comparação com Vei (21,8 ± 3,7 e 17,2 ± 2,6 µg/g, respectivamente; P≤0,05). Este efeito foi inibido pelo pré-tratamento com CPZ i.t. (% de inibição: 49 ± 6% na T e 37 ± 10% noB; P≤0,05).CAPi.v. induziu extravasamento de plasma na T (75,5 ± 14,5 µg/g) e B (52,9 ± 6 µg/g) em comparação com Vei (24,7 ± 5,8 e 13 ± 2,7 µg/g,respectivamente; P≤0,05). Este efeito foi inibido pelo pré-tratamento com CPZ i.t. (% de inibição:57 ± 4% na T e 48 ± 5% noB; P≤0,05). Em outra série de experimentos, oextravasamento plasmático induzido porCAP (55,7 ± 9,7 µg/gna T e 47 ± 6,5ug/g noB) foi também inibido por HOE i.t.(61 ± 8% e 42 ± 6% de inibição, respectivamente, P≤0,05). E ainda, o extravasamento causado por CAP(57,5 ± 12,6 na T e 44,5 ± 8 no B) foiinibido pela associação i.t. de HOE e CPZ (% de inibição:55,4 ± 5% na T e 44,6 ± 4% noB; P≤0,05). : Os resultados preliminares sugerem que o extravasamento plasmático induzido por CAP nas vias aéreas ocorre, em parte, através da modulação indireta do receptor TRPV1 possivelmente via estimulação de receptores de BK.

 

 

Efeitos diuréticos e poupador de cálcio induzidos por Tropaeolum majus L. após tratamento prolongado em modelo de osteoporose em ratas ovariectomizadas 

Lorena Neris Barboza

A osteoporose é uma doença multifatorial, que se caracteriza por um desequilíbrio de formação e reabsorção óssea, aumentando o risco de fraturas. A forma mais comum da osteoporose ocorre em mulheres após a menopausa ou acima dos 70 anos de idade e seu surgimento pode estar associado ao estilo de vida, idade, fatores genéticos e/ou hormonais. Estudos anteriores demonstraram que o extrato obtido a partir de Tropaeolum majus L. apresenta efeitos diuréticos, antioxidantes e é amplamente utilizada na medicina popular brasileira para o tratamento de hipertensão. No entanto, o impacto da sua utilização prolongada na presença de níveis baixos de estrogênio (como ocorre na menopausa) permanecem obscuros. O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia do extrato hidroetanólico obtido de Tropaeolum majus (HETM) como agente diurético após tratamento prolongado (4 semanas) em um modelo de osteoporose induzido por ovariectomia em ratas da linhagem Wistar. O HETM foi obtido através de metodologia previamente descrita. Foram utilizadas cinquenta e quatro ratas jovens (3 meses; 150-200g) da variedade Wistar divididas em seis grupos (n = 9). Um grupo não ovariectomizado (SHAM) foi tratado oralmente como veículo. Outros cinco grupos de ratas foram ovariectomizadas (OVX) e receberam pela via oral diferentes doses de HETM (3, 30 e 300 mg/kg), furosemida (25 mg/kg) ou o veículo. Todos os tratamentos foram realizados uma vez ao dia por 4 semanas. Uma vez por semana os animais foram mantidos em gaiolas metabólicas individuais durante 8 horas para colheita de urina, tendo o volume, condutividade, pH, densidade, cálcio, potássio, cloreto e bicarbonato determinados no final deste período. Ao término dos experimentos o sangue total foi coletado para a mensuração dos níveis de colesterol total e frações (HDL, LDL e VLDL), triglicerídeos, fosfatase alcalina, transaminases oxalacética e pirúvica e osteocalcina. Todos os procedimentos foram submetidos e aprovados pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo experimentação animal da Universidade Paranaense sob o número 22833/2012. Os dados obtidos revelaram que o HETM foi capaz de sustentar o seu efeito diurético e natriurético mesmo após 4 semanas de tratamento. Além disso, a sua utilização diminuiu a excreção de cálcio e potássio urinário e reduziu os níveis séricos de CT e LDL-C. Da mesma forma, o tratamento com HETM mantiveram os níveis de osteocalcina semelhantes aos obtidos em animais OVX tratados com veículo. Todos os demais parâmetros avaliados não apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre todos os grupos experimentais. Os resultados sugerem que HETM pode ser uma boa alternativa como agente diurético quando se deseja combinar eficácia e segurança em pacientes com baixos níveis de estrogênio.

 

Efeito da quercetina na hiperlocomoção induzida por metilfenidato, um modelo animal de mania

Luiz Sales

O episódio maníaco do Transtorno Bipolar está associado a um aumento na atividade da proteína quinase C (PKC), que pode ser, portanto, um potencial alvo terapêutico na estabilização deste transtorno psiquiátrico. Além disso, a mania também tem sido associada a estresse oxidativo. A quercetina é um bioflavonóide com conhecidas propriedades antioxidantes e atividade inibitória sobre a PKC. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da administração aguda e crônica de quercetina em camundongos submetidos a um modelo animal de mania. A hiperlocomoção induzida por metilfenidato foi usada como modelo animal de mania. Camundongos Swiss machos (CEUA 733) foram tratados com lítio (100 mg/kg i.p.), quercetina (2,5; 5; 10 ou 40 mg/kg i.p.) ou veículo (salina i.p.) (A administração crônica foi realizada por 28 dias) 15 minutos antes da administração de salina ou metilfenidato (5 mg/kg s.c.). A atividade locomotora foi mensurada por 20 minutos na caixa de movimentação espontânea 20 minutos após a administração de salina ou metilfenidato. Os resultados foram analisados por ANOVA de uma via seguido do teste post hoc de Newman-Keuls. Os resultados mostraram um aumento na atividade locomotora no grupo tratado com veículo + metilfenidato, quando comparado ao grupo veículo + veículo (p < 0,05). A administração aguda de quercetina não foi capaz de reverter a hiperlocomoção induzida por metilfenidato (p > 0,05 para todas as doses). O lítio, por sua vez, foi capaz de reverter a hiperlocomoção (p < 0,05). Nenhuma das drogas testadas diminuiu a atividade locomotora espontânea dos animais. A administração aguda de quercetina não apresentou efeito tipo antimaníaco no modelo da hiperlocomoção induzida por metilfenidato, apesar do fato desta substância possuir atividade inibitória sobre a PKC e ação antioxidante, o que pode estar relacionado ao episódio maníaco. O efeito positivo do lítio validou o procedimento utilizado. Estudos envolvendo o possível efeito tipo antimaníaco da administração crônica da quercetina em camundongos já estão sendo realizados, além da análise do estresse oxidativo.

 

Avaliação dos efeitos da pioglitazona em modelo animal de doença de Parkinson induzido por 6-hidroxidopamina (6-OHDA)

Meira Machado

A doença de Parkinson (DP) é caracterizada por uma neurodegeneração crônica progressiva onde é observada perda de neurônios dopaminérgicos na substância negra parte compacta (SNpc), levando a uma deficiência de dopamina no estriado e desencadeando os principais sintomas da doença: bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso e instabilidade postural. A depressão é um dos sintomas não-motores mais comuns acometendo cerca de 35% dos pacientes com DP, podendo ser considerada como um pródromo, pois pode surgir até vários anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas motores característicos da doença. A pioglitazona é uma droga sensibilizadora da ação da insulina utilizada no tratamento de diabetes tipo-2, caracterizada farmacologicamente como um agonista de receptores ativados por proliferadores de peroxissoma-γ (PPAR-γ). No cérebro os PPAR-γ apresentam uma distribuição regional, sendo expressos no córtex piriforme, tubérculo olfatório, gânglios da base, tálamo, hipocampo, área tegmental e inclusive em regiões dopaminérgicas como a SNpc e estriado. Já existem evidências de que a pioglitazona é capaz de modular respostas inflamatórias in vivo in vitro protegendo as células da morte e da toxicidade. Alguns estudos sugerem um possível efeito neuroprotetor tanto na prevenção e até mesmo na redução de alguns danos causados por toxinas infundidas na substância negra que reproduzem efeitos semelhantes da DP em animais. Por isso, pretendemos investigar os possíveis efeitos neuroprotetores e comportamentais da pioglitazona em ratos submetidos à infusão intranigral da 6-OHDA. Serão realizados tratamentos com 30mg/kg da pioglitazona, sendo realizados dois experimentos: pré-tratamento, durante 5 dias antes da infusão da toxina, e pós-tratamento, durante 5 dias após a infusão da toxina. Posteriormente será feita a avaliação da atividade de locomoção desses animais no teste de campo aberto e catwalk nos dias 1, 7, 14 e 21 após infusão da toxina, assim como avaliação da atividade antidepressiva no teste da preferência por sacarose e no teste do nado forçado. Serão realizadas análises neuroquímicas como a dosagem de neurotransmissores por HPLC, a imunorreatividade para a enzima tirosina hidroxilase, o estresse oxidativo e a avaliação da neuroinflamação através dos marcadores NF-kB, GFAP e OX-42.

 

Resposta febril em animais expostos ao etanol: Possíveis alterações na sinalização envolvendo citocinas, prostaglandinas e células da glia

Tatiane Mendes Boutin Bartneck Telles

Doenças infecciosas apresentam sintomas conhecidos como síndrome de doença (sickness syndrome) como febre, hiperalgesia, perda de apetite e sonolência com a função de combater a infecção através de alterações comportamentais, autônomicas e endócrinas. Situações onde a resposta febril não se apresenta adequada podem, portanto, representar uma deficiência nas defesas do indivíduo contra infecções. Dentre estas situações está o alcoolismo. O presente estudo objetiva avaliar se a administração de etanol na fase jovem afeta a resposta febril induzida por lipopolissacarídeo (LPS) em ratos adultos. Foi administrado etanol 3g/kg, i.p aos ratos Wistar machos no dia pós-natal 25, 26, 29, 30, 33, 34, 37 e 38 (grupo Etanol) ou solução salina (grupo controle). Uma semana antes da administração de LPS os animais receberam registradores remotos de temperatura na cavidade peritoneal. Treze e 25 dias após a ultima administração de etanol foi injetado LPS 5 ou 50 mg/kg, i.p. e a temperatura corporal avaliada por 6 h. Os animais do grupo Etanol que receberam LPS 13 dias após a administração de etanol apresentaram uma resposta febril significativamente reduzida em relação ao grupo controle em ambas as doses de LPS. O mesmo ocorreu com o grupo que recebeu a menor dose de LPS 25 dias após a última administração de etanol. Estes dados sugerem a possibilidade de alterações na resposta febril decorrentes do alcoolismo na fase jovem, alterações estas que poderiam estar relacionadas aos diversos mediadores da febre como as citocinas e as prostaglandinas que serão avaliados na sequência deste estudo.

 

Administração de tamoxifeno após a recuperação da memória de medo reduz o comportamento de freezing em ratos

Thiago Rodrigues da Silva

A recuperação da memória pode render uma memória lábil tornando vulnerável a perturbações uma vez que este evento é seguido por uma fase de estabilização, referida como reconsolidação. Tal vulnerabilidade diminui à medida que o tempo entre a recuperação e o tratamento farmacológico aumenta. A proteína quinase C (PKC) desempenha um papel importante na formação da memória, e isoformas de PKC são necessárias para a reconsolidação. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da administração sistêmica de tamoxifeno (TMX), um inibidor não-selectivo da PKC, utilizado no tratamento clínico de câncer  da mama e episódios maníacos do distúrbio bipolar, imediatamente após a reativação da memória em ratos submetidos ao condicionamento do medo contextual. O protocolo consistiu da familiarização (3 min),  condicionamento do medo (0,7 mA, 3 s, intervalo de 30 s intre-choque), recuperação da memória (3 min), Teste e A1 Teste A2, 3 min no contexto A, 24 horas e 7 dias após a recuperação da memória, respectivamente. Um contexto neutro B foi usado para evitar a recuperação da memória. No experimento 1, ratos Wistar machos foram tratados com veículo, midazolam (MDZ; controle positivo de 1,5 mg / kg) ou TMX (1, 10 ou 50 mg / kg) imediatamente após a recuperação da memória e foram expostos nos teste A1 e teste A2. Nos experimentos 2 e 3, os grupos independentes de animais receberam veículo ou TMX (50 mg / kg), 6 ou 9 horas após a recuperação da memória, foram expostos aos testes A1 e A2. No experimento 4, os animais foram tratados com veículo ou TMX (50 mg / kg) imediatamente após a exposição ao contexto neutro (B). O medo foi quantificado a partir da percentagem de comportamento de freezing. Medidas repetidas ANOVA seguido por Neuman-Keuls revelou que os animais tratados com MDZ apresentou comportamento de freezing menor que o grupo tratado com veículo 24 horas (Teste A1) e 7 dias depois (Teste A2), animais tratados com TMX apresentaram níveis semelhantes comportamento de freezing como o grupo tratado com veículo durante o ensaio A1, no entanto, quando expostos ao Teste A, animais tratados com TMX  no apresentaram comportamento de freezing menor do que o grupo tratado com veículo [F (8,80) = 3,72; P = 0,001]. Tratamento com TMX 6 horas após a reativação da memória do medo não causou redução no comportamento de freezing durante o teste A1, no entanto, o grupo tratado com TMX, no teste A2 apresentou redução no comportamento de freezing do que os controles [F (2,22) = 4,86; P = 0,01]. O efeito TMX era específico para o contexto, uma vez que os animais expostos ao Contexto B e imediatamente depois tratados com estas drogas apresentaram níveis semelhantes de  freezing como o grupo controle [F (1,18) = 1,16; P = 0,30]. Este resultado confirma o efeito de MDZ em interromper reconsolidação memória do medo e sugere que a administração TMX após a recuperação da memória reduz o comportamento de freezing por interferir com mecanismos de persistência da memória.